Sou Masterlove e Escritora. E, se no início eu não sabia como conciliar as duas coisas, ao longo do caminho as duas profissões foram se integrando e conectando de tal forma que hoje elas se complementam de forma harmoniosa, uma enriquecendo a outra nos aprendizados, experiências e realizações.
Este final de semana participei de um evento literário fantástico: Elas Publicam. É um encontro só de mulheres que atuam no meio literário e editorial. É um dia inteiro com palestras, debates, mesas, oficinas, bate-papo, comidinhas, trocas e aprendizados.
Participei da oficina A escrita poética pelos fios de Ariadne: rede de afeto e fortalecimento do feminino, com Sandra Guimarães e Margarida Montejano e tivemos uma dinâmica muito rica, quando, em duplas ou individualmente, todas as participantes escreveram em poucos minutos sobre quem somos e, ao final, todos os textos foram lidos e se entrelaçavam e nos conectavam umas às outras.
O resultado foi surpreendente e lindo. Cheio de poesia e verdades. Cada uma se via no escrito da outra. Entramos na sala de uma maneira e saímos de outra, cheias de energia, sensibilidade e renovação. Transcrevo parte dos textos produzidos:
“Tear Feminino
Segue o tempo
Teço as horas
Corto os laços
E costuro os fios
Da esperança,
Com o novo
Tecido feito
A quatro mãos”
“Eu, apesar de tão forte,
Sou pequenina e frágil.
Apesar de todos os meus medos, sei que carrego em mim
Forças imensas.”
A Escrita como ferramenta no Processo Masterlove
E, o que isso tudo tem a ver com o Masterlove?
Uma das ferramentas que invariavelmente eu uso como Masterlove é a cura através da escrita.
Não trabalhamos com doenças ou traumas, mas todos nós trazemos no íntimo lembranças, histórias, momentos que, de alguma forma, interferem na nossa vida atual e dos quais ainda não conseguimos lidar, enfrentar, ou nos livrar.
Faça uma lista.
Quando eu percebo que isso está ocorrendo dou como tarefa para a cliente a escrita. Às vezes em forma de listas. Listar o que incomoda, o que quer, quem é. Pontos positivos ou negativos de uma decisão, de um comportamento.
O simples fato de colocar no papel aquilo que nos incomoda, nos dá mais clareza e nos ajuda a perceber a dimensão do problema e as consequências dos nossos atos.
E clareza é poder. Juntas, analisamos essas listas, discutimos cada ponto, organizamos os pensamentos e as emoções. E, mais importante que tudo, traçamos metas e objetivos para sairmos do lugar de angústia e caos.
Escrever cartas como forma de cura.
Outra tarefa que é muito eficiente para clarear medos, tristezas, frustrações, emoções e sentimentos é a escrita de cartas.
Sim, Bem, escrever uma carta soa tão antiquado que nem sabemos mais como se faz isto.
Mas eu vou te ensinar:
1) Pegue papel e caneta. Sim, Bem, a escrita precisa ser à mão. Nada de celulares ou computadores. O caminho é a sua emoção, o seu sentimento, suas mãos, a caneta e o papel. É comprovado que, o cérebro entende o ato de escrever como um comando. E passa a se orientar de acordo com ele. Escrever à mão também é mais lento, fazendo com que você observe cada palavra e sinta cada emoção que ela desperta.
2) Ninguém precisa saber o que você está fazendo ou ler sua carta depois. Então, escreva em um lugar sossegado, sem perturbação. Sem celular! Lembre-se, você está em um processo de cura, está cuidando de você mesmo, dedicando-se a você. Dê valor a este momento.
3) Escolha o tema, a pessoa, a lembrança sobre a qual você quer escrever. Por exemplo, sua mãe nunca foi afetuosa e você carrega dificuldades nos seus relacionamentos pessoais por conta disso. Escreva uma carta à sua mãe. Ela só irá ver a carta se você quiser, então, abra o seu coração, permita-se expressar a tristeza, a frustração, a insegurança e abandono que você, desde criança, sentiu. Irrite-se, xingue (Deus me perdoe, mas na carta pode), expresse sua raiva, sua dor. Expresse suas emoções ao longo da vida em função do comportamento dela. Escreva sobre as tentativas que você fez para resolver essa questão com ela, e com você mesma. Enfim, esgote o assunto até se sentir esvaziada, leve, limpa. Pode chorar.
4) Terminada a carta, guarde-a em lugar seguro por alguns dias, até você se sentir forte o suficiente para relê-la.
5) Releia a carta também em um lugar seguro, calmo e tranquilo. Se perdoe por tudo aquilo que você viveu e escreveu.
6) Queime a carta. Sem cópias. Entregue para o Universo suas dores. Confie. E siga adiante.
Mantenha um diário.
Você não precisa acreditar em mim, mas se se sentir confortável, tente usar a escrita como uma aliada, como cura. Seja na forma de listas, de cartas, ou um diário. Antiga de novo, né, Bem?
Não proponho um diário mesmo, de escrever tudo o que aconteceu ao longo do dia. Mas um diário de pensamentos e emoções. Deixe-o ao lado da cama e, antes de dormir, escreva uma frase, um pensamento que te incomodou ou alegrou, uma emoção que você vivenciou. Se algo te incomoda, escreva no diário. Converse consigo mesma. Escreva sem receios (mas mantenha esse diário em um lugar seguro!). Isso fará com que suas emoções e pensamentos estejam guardados em um lugar e parem de te atormentar sem solução. E, novamente, fará você ter clareza sobre eles. E, clareza é poder.
Utilize esse poder para se curar e transformar a sua vida.
Se precisar de ajuda, nós, Masterlovers, estamos aqui para isso. Encontre no Portal Master Love a profissional ideal para te orientar nesse caminho.
Escreva um livro.
Para finalizar, vou lhe contar uma história que conheço de perto. Em 2012 tive uma depressão severa que me paralisou por 7 meses e foi devastadora para mim. Quando, finalmente, comecei a sair deste período mais duro, a cura não foi imediata, mas um processo lento e, física e emocionalmente, eu estava quebrada e com medo de não conseguir.
Decidi, então, escrever sobre tudo o que eu passei, para parar de pensar sobre o assunto e sobre o medo de voltar a adoecer.
Durante dez anos esse texto ficou guardado, quase escondido, porque era doloroso demais voltar a ele.
Dez anos depois, este texto foi transformado no meu primeiro livro: Um caso de Bipolaridade, a roda-viva de se conviver com o transtorno bipolar.
E, ainda tendo o que trabalhar sobre essa experiência, escrevi A Senhora Depressão, a noite escura da alma.
Hoje, confesso que falar sobre isso ainda não é fácil, mas ter escrito sobre o assunto, saber que outras pessoas podem ser ajudadas com a minha fala, ter transformado essa história tão dolorosa em livros, ter me tornado escritora em razão desses livros ressignificou esta experiência e me fez ser mais leve, mais realizada, mais plena, e por que não? Muito mais feliz.
Eliane Bodart