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Eliane Bodart

 

Relacionamento / 11 de Maio de 2025
Para aquela que me deu a vida várias vezes
Minha sincera homenagem a todas as mulheres que experimentam o maior amor do mundo.



Iraci, de origem indígena, significa abelha-mãe, mãe de todos. Incoerentemente, teve esta única filha.

Mamãe sempre foi um espírito livre e independente, para horror de minha avó. Minha avó, nesta época, era muito dura e austera e o relacionamento entre elas não era amoroso. O relacionamento com meu avô era muito pior.

Minha mãe, aos quatorze anos, estudando e trabalhando, teve um colapso nervoso e foi obrigada a decidir entre o trabalho e o estudo. Abandonou ali seus sonhos de crescimento pessoal e foi trabalhar no que deu, para sustentar todo mundo.

Aos dezoito anos ela engravidou de um namorado com o qual já estava rompida. Este namorado estava na Europa e ela não tinha contato com a família dele.  

Aqui mamãe me deu a vida.

Os amigos que sabiam da sua difícil situação familiar e que a gravidez, além de ser malvista pela sociedade preconceituosa do ano de 1966 era pecado aos olhos da religião de minha avó e dos pais de minha avó, ainda vivos, fizeram uma vaquinha para que ela pudesse realizar um aborto.

Mamãe foi sozinha à clínica clandestina de aborto. Enquanto esperava, tomou a atitude de se levantar, sair dali e com o dinheiro arrecadado, comprar meu enxoval.

Aqui ela me deu a vida novamente.

Meu avô a expulsou de casa.

Minha avó conseguiu que ela fosse acolhida em uma casa para mães solteiras mantida por famílias abastadas. Em troca do seu trabalho doméstico ela pode ficar ali até que eu nascesse.

Muitas das crianças nascidas eram adotadas por famílias ricas. Tudo na surdina.

Assim, mamãe cuidou de uma bebezinha, cuja mãe voltou para casa dos pais, sob a condição de deixar a criança para adoção. Depois de dois ou três meses a bebê foi adotada. Mamãe quase morreu de paixão.

Nasci em um bom hospital, quando mamãe ainda estava na maca, antes de entrar na sala de cirurgia. Só não caí ao chão pela agilidade de uma enfermeira. Mamãe disse que seu parto foi o da placenta, que não saiu junto comigo.

Quando deu o seu tempo, mamãe saiu daquela casa, aos dezenove anos, me carregando nos braços.

Aqui ela me deu a vida.

Não sei o motivo, mas meu avô aceitou que ela voltasse a morar em casa comigo. Talvez porque era ela quem sustentava a casa.

Mamãe voltou imediatamente a trabalhar e minha avó cuidava de seus filhos mais novos e de mim, fazendo o que era possível para ajudar nas despesas. Vendia de tudo, fazia faxinas, o que aparecesse. A família, muito unida e, também, em retribuição a tudo que muitas vezes minha avó fez por eles, ajudava.

Eu não aceitava o leite materno, embora mamãe fosse uma vaca leiteira. Então, para complicar, ela precisava comprar leite, alguns caros, até que acertei com leite de garrafa de vidro, com um pouco de água.

Aos três meses de idade, passei a ter um quadro crônico de bronquite asmática. Crises sérias. Como São Paulo era muito fria e úmida, as crises eram frequentes e incontáveis foram as vezes que fui internada em hospitais.

Não tínhamos carro. Às vezes o vizinho, que era motorista de táxi, dava carona até o hospital. Às vezes ela me levava de ônibus, carregando-me até quando conseguiu.

Para não sair de madrugada e ficar no tempo, teve noites (muitas) que ela ficava comigo no colo, me abanando, esperando amanhecer para me levar ao hospital. Às vezes ela estava empregada e eu ficava em quarto, com direito à visitante. Às vezes ela estava desempregada e eu ficava na enfermaria, com muitas outras pessoas, e ela não podia ficar comigo. Eu passava a noite gritando e chorando por ela, o que só piorava a minha dificuldade de respiração.

Mamãe suportou essas noites eternas e infindáveis e, assim, me deu a vida várias vezes, salvando-me das crises.

Entre meus três e seis meses de idade, meu pai biológico voltou para o Brasil. Mamãe o avisou, por meio de uma amiga comum, que eu havia nascido. Ele duvidava que eu fosse sua filha, mas disse que, se ela fizesse um teste de paternidade e eu realmente fosse filha dele, ele me registraria como filha e assumiria a paternidade.

Mamãe, muito pobre, ele, filho de uma família muito rica. Não havia a possibilidade de casamento. Ela pensou que, com o dinheiro da família dele ele poderia me tirar dela, ou que, ao longo do tempo, com a diferença de mundos, eu acabasse escolhendo viver no luxo que ele poderia me oferecer.

Assim ela o mandou pastar, não fez o exame e me deu vida novamente.

Quando eu tinha dois aninhos, um casal amigo da família descobriu que minha mãe me tinha (tentavam guardar segredo). Já tinham uma certa idade e os filhos, homens, já estavam casados. Eles pediram para me adotar.

Minha mãe disse não.

Aqui ela me deu a vida novamente.

Se eu consegui fazer a faculdade de direito é porque muitas vezes, quando tínhamos carro, mamãe me levava e buscava pelo menos até a estação de metrô, ou me esperava de madrugada no ponto de ônibus, para que eu não subisse a rua sozinha. Como eu ainda era “bronquiteira”, às vezes, em crise, tinha provas que não poderia perder. Ela me levava até a faculdade, esperava eu fazer a prova, e então me levava para o hospital.

Aqui, ela me deu oportunidade de viver a vida que eu queria.

Quando eu decidi ser juíza de direito, um advogado amigo da família a desestimulou.

- Iraci, não há nenhum juiz ou desembargador na família de vocês, é necessário ter Q.I. (quem indicou) para passar no concurso.

Foram anos de estudo, porque eu também trabalhava o dia inteiro. Mamãe sempre me esperava com comidinha pronta. Se eu virava a noite ela me levava leite e bolachas, em cima das quais muitas vezes eu dormi.

Quando eu soube que passei no concurso, minha mãe estava lá, dentro do carro, na porta do Tribunal, no meio do trânsito de São Paulo, buzinando feito uma louca, comemorando minha vitória.

Aqui, ela viveu comigo o meu sonho.

É óbvio que aquele advogado foi a primeira pessoa para quem ela contou a novidade.

Meu filho tinha três anos. Confesso que é um filho compartilhado entre ela e eu. Enquanto eu rodava o interior de São Paulo por causa da minha carreira de magistrada, mamãe cuidava do meu filho. O que me dava paz de espírito.

Quando eu tive minha filha, mamãe foi morar perto de mim para cuidar dela enquanto eu trabalhava e se tornou um pouco mãe de minha filha também, dando vida para a minha pequena vida, Tarsila.

Já madura, morando em Jundiaí, juíza há anos, tive uma crise grave de depressão, ficando sete meses confinada dentro do meu quarto. Ela cuidou de tudo, da minha casa, dos meus filhos, das finanças. De mim.

Subia inúmeras vezes ao meu quarto com infinitas variedades de comida que eu recusava terminantemente. Passou então a me levar água de coco e soro líquido, suco verde, porque eu só conseguia beber um pouquinho por vez. Emagreci 35 quilos. E minha mãe me via, desesperada, definhar a cada dia.

Graças ao seu esforço e insistência meu corpo físico sobreviveu e consegui, com a ajuda de tantos, superar aquela crise.

Novamente minha mãe me deu a vida.

Com certeza estou esquecendo de alguma coisa.

Não lembro de um momento feliz ou triste que esta mulher não estivesse ao meu lado. Do jeito dela, mas ao meu lado.

Ontem, por uma série de imprevistos, ela ficou sem saber de mim durante o dia todo. Só conseguiu falar comigo às 17h30. Ela chorava copiosamente do outro lado da linha, porque, como boa mãe, só conseguiu pensar em besteiras que pudessem ter me acontecido.

E, assim, ela continua cuidando de mim e me dando a vida.

Quantas vidas eu viver, quantas vidas eu devo a esta impressionante mulher.

Minha admiração, minha gratidão e meu amor eternos.

Eliane Bodart

 

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