Para contextualizar, voltemos um
pouco na História a fim de refletir a origem da baixa autoestima da população Negra:
devido a questão do Sistema Escravocrata, os africanos eram capturados e
trazidos para trabalhar nas Colônias Brasileiras, sustentando e enriquecendo senhores
de engenho, fazendeiros do café e até mesmo trabalhando na extração de pedras
preciosas nas minas, por quase 400 anos.
Ainda assim, eram tratados com muita hostilidade e ódio, e eram considerados como inferiores aos homens brancos.
Com a Abolição e, simultaneamente, a chegada dos italianos, a população Negra foi libertada e relegada à própria sorte. Foi marginalizada (quadro que observamos até os dias de hoje).
Dessa forma, em plena era da globalização, ainda se observa este quadro continua reforçando o sentimento de inferioridade na população Negra.
O racismo, o preconceito, a discriminação são fatores desenvolvidos nos núcleos familiares.
“O racismo nasce a partir de tudo que se escuta desde criança, destruindo assim a capacidade de se construir uma identidade sólida e saudável.”
Para vencer todas essas barreiras e desenvolver a autoestima Negra, é preciso fortalecer a autoconfiança, aceitação e valorização da sua identidade racial, cultural e histórica.
Por tanto, a autoestima Negra busca resgatar o orgulho, combater estereótipos e construir uma visão positiva de si mesmo, baseada em ancestralidade, cultura, beleza e luta.
“A autoestima é construída, guerreada, conquistada. Não veio de graça”
Como fortalecer essa autoestima?
Vão aqui algumas dimensões importantes a se considerar visando aquisição e fortalecimento da autoestima Negra:
1. Reconhecimento da Ancestralidade e História: valorizar e reconhecer as contribuições e a resistência dos povos africanos e afrodescendentes ao longo da história, ajuda a fortalecer a autoestima. Compreender a ancestralidade, os sacrifícios e as lutas dos antepassados, cria um sentimento de pertencimento e orgulho.
2. Valorização da Beleza Negra: desconstruir padrões de beleza eurocêntricos é um fator importante a ser considerado para fortalecer a autoestima.
A aceitação da diversidade de traços como a pele escura, os cabelos crespos, os lábios grossos e os corpos naturais, é fundamental para que as pessoas Negras se vejam como belas e dignas, sem precisarem se adequar aos estereótipos impostos.
“É importante ter autoestima sem muletas: aquela que depende do elogio de outras pessoas, para fortalecer a visão que temos de nós mesmos. Isso é autoestima independente e autossuficiente.”
3. Educação e Consciência Cultural: a autoestima Negra é construída através do conhecimento relacionado à sua cultura, suas expressões artísticas, sua literatura, seus pensadores e suas contribuições ao mundo.
Ao aprender mais sobre figuras históricas e contemporâneas, que são modelos positivos como, Martin Luther King Jr., Angela Davis, Malcolm X, Chica da Silva e tantos outros, a pessoa Negra desenvolve sentimentos de empoderamento e orgulho.
“Autoestima é muito mais que beleza e fisicalidade. (.)”
4. Resistência ao racismo: o racismo tem como um de seus principais efeitos destruir a autoestima das pessoas negras. Assim, para desenvolvê-la de maneira saudável, implica no desenvolvimento de mecanismos para resistir a essas opressões, seja por meio de espaços de apoio, da afirmação da sua identidade ou da militância por igualdade e justiça.
“Liberdade é a gente ser quem a gente é e gostar do que a gente gosta. E isso não é tarefa fácil!”
5. Comunidades de Apoio: fazer parte de uma comunidade que valorize a negritude, como movimentos negros ou mesmo, círculos familiares e de amigos que celebram a cultura e as lutas, contribui significativamente para ajudar a fortalecer ainda mais a autoestima.
É um espaço de troca, fortalecimento e ressignificação de vivências compartilhadas.
“Resgatar paixões e aprender a gostar do que e de quem a gente é, muito além da aparência!”
6. Empoderamento e Autoaceitação: a autoestima Negra também envolve a capacidade de rejeitar as narrativas opressoras e adotar uma autoimagem positiva com firmeza. Fazer com que a prática da autoaceitação se torne um hábito, desenvolvendo um diálogo interno saudável e confiando no próprio valor, independente do olhar externo.
“(.) A autoestima foi negada para a população negra, tanto na questão da beleza e características estéticas, quanto na intelectualidade, a capacidade de estratégias, de planejamento, humor, conhecimento na área da ciência, informática e tecnologia.”
Estratégias para fortalecer a Autoestima Negra:
Afirmações positivas – repetir frases que validem sua identidade e valor.
Reconhecer o Racismo Estrutural – ter consciência das formas de opressão ajuda a não internalizar sentimentos de inferioridade.
Educação e Representação – buscar referências de figuras negras que inspiram, em livros, filmes e histórias.
Cultivo da saúde mental – racismo é também uma questão de saúde mental e, cuidar de si nesse aspecto é fundamental.
A autoestima Negra é, portanto, uma jornada contínua de resistência, resiliência e empoderamento, que busca resgatar a dignidade e a valorização da negritude em suas mais diversas formas e manifestações.
Dimensões culturais, históricas, sociais e psicológicas.
Ampliando ainda mais a visão sobre a autoestima Negra, exploremos profundamente suas diversas dimensões culturais, históricas, sociais e psicológicas. Esse processo é essencial não apenas para a autoestima individual, mas também para o fortalecimento coletivo de uma comunidade que, historicamente tem sido alvo de opressão.
1 – Descolonização Mental e Psicológica: esse é um conceito central na autoestima Negra e, se refere ao processo de desfazer mentalidades coloniais que impuseram a inferioridade da população negra por séculos. Ela não só explorou fisicamente os povos africanos e afrodescendentes, como também buscou destruir suas culturas e impor a ideia de que os valores europeus eram superiores.
Para ajudar a construir e fortalecer a autoestima Negra, é preciso romper com essa mentalidade imposta: resgatar narrativas, costumes, línguas e tradições africanas que foram apagadas ou marginalizadas; entender a verdadeira história pré-colonial de grandes civilizações Africanas como Mali, Gana, Egito e Axum, ajuda a redefinir a visão que muitas pessoas negras têm de si mesmas, criando uma conexão com um legado rico e poderoso.
2. Movimentos Culturais e Políticos – Movimentos como o Pan-africano, a Negritude, o Black Power nos EUA e a Consciência Negra no Brasil, foram fundamentais para a elevação da autoestima Negra. Eles visam unir pessoas negras de diferentes partes do mundo, reconhecer a opressão sistêmica e lutar por libertação e justiça.
A filosofia da Negritude, por exemplo, originada por intelectuais como Aimé Césaire e Léopold Sédar Senghor, promovia a valorização das culturas africanas e o orgulho de ser negro, rejeitando a assimilação aos padrões europeus. O Black Power, liderado por figuras como Malcolm X e Stokely Carmichael, enfatizava a necessidade de autossuficiência, orgulho racial e resistência ao racismo.
No Brasil, o movimento Negro teve personalidades como Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez e Beatriz Nascimento, que não só combateram a discriminação racial, como também buscaram resgatar a identidade negra e lutar por representatividade e direitos.
3. Educação e Produção de Conhecimento – a Educação Afrocentrada tem sido um dos principais pilares na construção da autoestima Negra. Ela valoriza a perspectiva africana e afrodescendente na história, ciência, artes e humanidades, bem como desafia o eurocentrismo presente nos currículos tradicionais, onde a história da África e dos povos negros muitas vezes é negligenciada ou distorcida.
Livros como “Pele Negra”, “Máscara Branca” de Frantz Famon, ou “Mulheres, Raça e Classe” de Angela Davis, e figuras como Viola Davis, Lupita Nyong’o, Tais Araujo e Lázaro Ramos, ao serem inseridos na Educação, são exemplos de obras que ajudam a promover o sentimento de pertencimento das pessoas Negras a compreenderem sua posição histórica e se libertarem de visões opressoras.
4. Representatividade Positiva e Mídia – a autoestima negra também está diretamente ligada à representatividade nas mídias e na cultura popular. Por muito tempo, as imagens de pessoas Negras na televisão, cinema e publicidade eram associadas a estereótipos negativos ou subalternos. Contudo, nas últimas décadas, houve um movimento significativo para garantir que estas sejam representadas de forma mais justa e diversificada.
Redes sociais também têm desempenhado um papel essencial. Plataformas como Instagram e TikTok, por exemplo, tornaram-se espaços onde influenciadores Negros discutem suas vivências, compartilham experiências e promovem o orgulho racial. Movimentos como o Black Girl Magic destacam a beleza, talento e força das mulheres Negras ao redor do mundo.
5. Autonomia Econômica e Empreendedorismo Negro – cada vez mais percebe-se um aspecto importante da autoestima Negra, que envolve a autonomia econômica. Empreender tem sido uma forma poderosa de resistência e construção de uma autoestima coletiva. Negócios liderados por pessoas negras fortalecem comunidades, criam oportunidades e ajudam a quebrar barreiras estruturais de acesso ao mercado.
Projetos como o AfroHub, no Brasil, têm promovido o empreendedorismo e dado visibilidade a negócios de pessoas Negras, promovendo uma visão de autossuficiência e empoderamento. Sendo assim, a autoestima também cresce com o fortalecimento econômico, à medida que elas passam a ser protagonistas de suas próprias histórias e donos de seus destinos.
6. Saúde Mental e Terapia Focada na Identidade Negra – o racismo gera traumas psicológicos profundos. Muitas pessoas Negras enfrentam questões como o esgotamento emocional ansiedade e depressão, em grande parte devido à violência e discriminação racial. Investir em saúde mental direcionada para as vivências negras, é fundamental para a construção de uma autoestima sólida e saudável.
Psicólogos negros e profissionais de saúde mental focados nas questões raciais desempenham um papel de vital importância no apoio às pessoas Negras.
Terapias voltadas para a valorização da identidade negra ajudam a reconhecer e processar os impactos do racismo, além de promover estratégias para lidar com essas realidades e reforçar uma autoestima positiva.
7. Espiritualidade e Conexão com a Ancestralidade – A espiritualidade desempenha um papel importante e fundamental na autoestima Negra, especialmente quando conectada à ancestralidade. Religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda, têm um papel crucial na autovalorização, na validação da identidade negra e no fortalecimento da autoestima.
Essas tradições espirituais promovem uma conexão profunda com os ancestrais e com o divino, fortalecendo o sentido de pertencimento e o orgulho da própria história. Muitos negros encontram nelas um espaço para celebrar suas origens e resistir à demonização que essas religiões sofreram ao longo dos séculos.
Minhas considerações.
Gostei muito de ter pesquisado e discorrido sobre esse assunto tão profundo, delicado e polêmico.
Acredito que o preconceito racial foi e é ainda pior do que o preconceito direcionado às pessoas com deficiência.
Na antiguidade, as crianças que nasciam com algum tipo de deformidade, tão logo fosse percebida, era morta no mesmo instante.
Há bem menos de dois séculos, os Africanos eram capturados a laço, muitas vezes por seus próprios compatriotas, negociados como mercadoria e levados para trabalhos forçados, torturas e opressão.
Não consigo compreender para que esse ranço histórico ainda perdura entre nós!
As condições muito ruins acabam forçando atitudes que visam extirpá-las da realidade em que se vive.
Graças a Deus, percebemos que muitos acontecimentos e iniciativas, estão contribuindo para promover o desenvolvimento sólido da Autoestima Negra.
Tenho como missão ajudar as pessoas a superarem obstáculos que as impedem de progredir para ter uma vida mais feliz, sendo mais confiantes e desenvolvendo amor-próprio.
Caso você esteja querendo aumentar sua autoestima, autoconfiança, autovalorização e autonomia, pode entrar em contato comigo! Estou certa de que juntos conseguiremos encontrar o caminho para alcançar seu tão desejado objetivo. @mitzi_masterloveoficial
Mitzi Regislaine Mello