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Eliane Bodart

 

Autoestima / 21 de Novembro de 2024
A Substância. O que você faria para ser sua melhor versão?
Como um filme de terror pode traduzir a relação das mulheres com o julgamento eterno sobre sua beleza e juventude.



A Substância

O que você faria para ser sua melhor versão?

Coralie Fargeat Estados Unidos, Reino Unido, 2024

Terror

Com grande astúcia e intensidade catártica, Coralie Fargeat vira a cultura da beleza tóxica do avesso em seu longa-metragem mais recente. Com a melhor atuação da carreira de Demi Moore, A Substância entra sem medo no panteão dos filmes da meia-noite e no cânone feminista. - MUBI


Queria muito assistir a este filme porque fala de um tema com o qual eu trabalho como escritora e como Masterlove: o envelhecimento da mulher e a busca pela juventude, mas não tinha maiores informações.

Não consegui assistir no cinema e fiquei feliz quando vi que já estava no streaming. Preparei minha pipoca, refestelei-me no sofá, cobertinha.

Tenho uma palavra para você sobre o filme: Perturbador.

Em tudo. A história, o clima asfixiante e claustrofóbico, a atuação excepcional de Demi Moore, a violência dos personagens, das imagens e das situações.

Goste ou não do gênero e do filme, você não fica ilesa depois de assistir.

Eu, como mulher com mais de 50 anos, pude entender a dor e desespero da personagem principal, descartada por ser considerada velha e a loucura em busca de voltar a ser bonita e jovem.

Mas o filme não é sobre envelhecimento apenas, mas sobre a luta para pertencer, para existir, se a mulher não é mais o padrão de beleza e juventude com o qual nos julgam.


As mulheres, após os 40 anos, entram em uma zona perigosa que é a Zona Invisível.


Elas temem se tornar invisíveis como mulheres e como objeto de desejo.

Não se exige do homem que seja jovem e belo a vida inteira. Mas se exige isso das mulheres. O que é cruel e impossível.

As mulheres, então, passam a buscar procedimentos estéticos – e hoje temos ofertas infinitas -, dietas mirabolantes, tratamentos, cremes, exercícios, em uma busca frustrante de permanecer jovem.

Por que frustrante? Porque ainda não se descobriu um método eficaz para parar o tempo, e o tempo passando, nosso corpo vai mudando, as células envelhecem, e a juventude se esvai.


E é aqui que entra a frase provocativa de marketing da “substância”: o que você está disposta a fazer para ser sua melhor versão?


No filme, as consequências foram catastróficas para a protagonista. E, quantas vezes, na vida real, isso também acontece?

Muitas amigas minhas se endividaram para pagar procedimentos, tratamentos e cirurgias estéticas. Mulheres – e homens também – arruinando suas feições em harmonizações desnecessárias e desastrosas.

O pior de tudo isso é que esses caminhos tortuosos são trilhados em uma ânsia de continuar sendo aceita, continuar pertencendo ao lugar que ocupa, por medo de ser descartada, de se tornar invisível.

E o filme é primoroso em trazer essa sensação de medo, de angústia, de desespero. E de vazio.

Este é um caminho comum, de inúmeras mulheres, que romperam os 40 anos.

Mas não precisa ser assim.


Esse limite dos 40 anos está cientificamente equivocado.


Realmente, a partir dos 40 anos, existe um marco importante que é a menopausa. Esta etapa encerra o ciclo reprodutivo da mulher. Ou seja, não há possibilidade de gerar um filho. E é isso. Não se pode confundir a capacidade de reprodução com a capacidade de produção. A mulher continua um ser ativo, produtivo e capaz. Física e mentalmente.

Essa ideia de finitude está associada ao papel feminino até algumas poucas décadas, quando a mulher tinha a única função de se casar, formar uma família, ter filhos e cuidar da casa e de todos.

Inúmeros fatores, como as guerras que levaram os homens de casa e da cidade por anos, a industrialização que precisou da mão de obra feminina, os meios contraceptivos que permitiram a escolha feminina de reproduzir e quando reproduzir, o caminho dos estudos, da formação e capacitação profissional e a ascensão de mulheres a cargos de comando e políticos mudaram completamente esse cenário.

E, por fim, temos o crescimento da expectativa de vida feminina. No Brasil, segundo o IBGE, em 1960 a mulher viveria 45,5 anos. Em 2023 essa expectativa é de 79,7 anos. Ou seja, aos 40 anos não estamos no fim da nossa existência. Talvez na metade.

Está na hora de incorporarmos os fatos científicos à mentalidade de homens e mulheres e nos adequarmos aos novos tempos e possibilidades.

Não, Bem, isso não significa que não envelheceremos a partir dos 40. Aliás, o processo de envelhecimento começa muito antes disso. Mas significa que podemos escolher como vamos envelhecer.

Podemos optar por este caminho tortuoso de estancar as marcas do tempo e vivermos em uma angustiante busca pela eterna juventude.

Ou podemos escolher vivermos da melhor maneira possível, inclusive fisicamente. 

Veja que nada há de errado em utilizar métodos, procedimentos e tratamentos que permitam retardar o envelhecimento, amenizar marcas do tempo. O problema, como em tudo na vida, é o desequilíbrio. O uso exagerado, o vício nesse processo.

E como você sabe que ultrapassou os limites?

Quando este objetivo passa a ser a prioridade da sua vida em detrimento do seu tempo, suas finanças, sua família.

Quando sua aparência com procedimentos vai se afastando da sua imagem verdadeira.

Quando há deformações.

Quando é impossível parar.

Quando, depois de tudo, você continua sentindo-se insatisfeita com sua própria imagem e infeliz.

Se isto estiver ocorrendo com você é hora de procurar ajuda. Avaliar se algum transtorno de imagem se instalou, ou alguma depressão ou transtorno psicológico está te impedindo de lidar com o envelhecimento de forma harmoniosa e equilibrada.


E como envelhecer bem?


“Belezas são coisas acesas por dentro”

TrERROR da música “Lágrimas Negras”, de Jorge Mautner


Voltar-se para dentro nesse momento é fundamental. Encontrar-se, descobrir quem você é além da imagem física, qual o seu propósito de vida, seus objetivos e sonhos para os próximos 40 anos? Traçar metas e planos para alcançá-los.

Entender que papel você ocupa no Universo. O que você é capaz de fazer, quais capacidades você tem.

Cuidar da mente, do corpo e do espírito.

Colocar-se na posição de aprender. Estamos em um novo mundo, nada do que vivemos se repetirá. Aprender a viver - e a construir – esse novo mundo nos dará utilidade para vivermos em um mundo novo e melhor, para todos.

Aconselho a todos, homens e mulheres, a verem o filme “A Substância”, para entenderem de forma chocante e contundente, o mal que esta ideia de juventude eterna pode causar.

Mas aconselho também, a verem “O Espelho tem duas faces”, com a espetacular - e fora dos padrões – Barbra Streisand, que fala sobre o mesmo tema, mas com delicadeza, ternura e romance.

Fácil? Não, Bem, não é. Mas é possível. E as Masterlovers estão aqui para ajudá-la a atravessar esse caminho. 

Eliane Bodart

 

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