Amo
cinema, as estrelas de Hollywood e a festa do Oscar. Já passei várias
madrugadas acordada para assistir à premiação ao vivo, mesmo tendo que
trabalhar na segunda-feira de manhã. E, óbvio, a cerimônia, para mim, começa
com o desfile do tapete vermelho, vendo cada terno, cada vestido, as joias,
cabelos, enfim, a-d-o-r-o!
Este ano, no entanto, só dei uma passada d´olhos nas matérias sobre o Oscar pós-cerimônia e me impressionou muito ver Liza Koshy vindo ao chão. Ainda bem que não aconteceu nada mais grave, se levantou com classe, tudo bem. Mas o que me impressionou não foi o tombo (já levei muitos), mas o tamanho do salto dela.
Aquela sandália com certeza foi projetada por engenheiros da NASA, e todos homens com severos traumas de infância. Só isso pode explicar como entenderam que aquilo era uma sandália confortável para alguém se locomover sobre ela.
E, depois, percebi que era uma tendência. Outras atrizes estavam tentando se equilibrar sobre sandálias semelhantes.
E tentando respirar em vestidos improváveis, e caminhar com saias justíssimas, necessitando de auxílio para algo tão simples como caminhar alguns passos.
Sim, é um evento para esbanjar esses arroubos. Mas as vi belíssimas, sim, mas desconfortáveis, constrangidas, imobilizadas em nome da beleza e do glamour. E fiquei com pena.
Lindas, ricas, jovens, glamourosas, beijam o Brad Pitt, mas se expõem enjauladas, compactadas, em fantasias que fazem o espetáculo, mas não consideram o conforto, o bem-estar e a segurança delas. Aquele tombo poderia resultar na quebra de um tornozelo, por exemplo.
Mas, deixemos as estrelas para lá um pouquinho.
E no nosso mundo, como estamos?
Salto alto é um artigo de tortura, você sabe disso, não?
Lembro de um casamento que minha priminha, 18 anos recém completados, mal conseguia andar de dor. Perguntei o que estava acontecendo e ela falou que era a primeira sandália de salto que ela usava. Nova e de tirinha. E ela estava morrendo de dor nos pés.
E eu pensei, tadinha, bem-vinda ao mundo feminino.
Quantos eventos enfrentamos com um sorriso no rosto e os pés nos torturando nas sandálias?
E sutiãs cheios de ferros, arames, tecidos que machucam as costas, barbatanas! Tudo para levantar, esconder as gordurinhas das costas, juntar, espremer.
Cinta! Você já teve o desprazer de se enfiar em uma cinta no calor de 40 graus do verão brasileiro?
Há algum mal em querer ficar bonita, se apresentar deslumbrante? Mal nenhum.
Desde que isso não implique em dor, desconforto, insegurança física e, pior do pior, que não seja escolha sua, mas imposição da sociedade ou dos outros.
Se você se impõe estas formas de tortura para se encaixar, para ser aceita, para se adequar a padrões impostos, algo está muito errado.
Por que você tem que se adequar a padrões externos? No caso das estrelas de cinema, faz parte do jogo. As pessoas querem ver o sobrenatural, o extraordinário, querem ser surpreendidas.
Mas, por qual motivo, você, ao sair com um cara, se espreme em roupas desconfortáveis, sandálias que te machucam, penteados que te deixam com a cabeça dolorida?
Que tal cuidar mais da pessoa incrível que você é, ter assunto para conversar, bom humor, interesses pessoais e um sorriso tão deslumbrante que ele nem tenha tempo de olhar para a barriguinha saliente ou a mecha rebelde que teima em descer pelo seu rosto?
Se vocês continuarem juntos, o que você acha que vai importar mais? Se você só sai de salto alto ou se você gosta de estar na companhia dele, ainda que seja de tênis?
Eventos são maravilhosos e necessários, para nos transformarmos em deusas e desfilarmos por aí. Mas se temos a necessidade dessa fantasia sempre, é porque estamos com receio de mostrarmos quem realmente somos. Talvez, sequer sabemos quem somos, preocupadas tanto com o olhar do outro, que já não nos olhamos mais.
Se você acha que está levando muito tombo desnecessário nos tapetes vermelhos da vida, vem conversar comigo. Talvez você esteja desperdiçando as melhores festas da vida.
Eliane Bodart