Eu sei que hoje é Dia das Mães e
desejo um dia fabuloso para todas essas mulheres extraordinárias, cheias de
superpoderes, que geram, criam, educam, protegem, alimentam, orientam e são
donas do amor mais incondicional que existe.
Mas e as mulheres que não são mães, será que se sentem excluídas nessa data?
Coisa minha, mas essas datas comemorativas não me tocam muito. Já disse, coisa minha. Mas não vejo muito sentido em presentear e almoçar com alguém por obrigação de uma data determinada pelo comércio.
Gosto muito de cuidado, respeito, atenção, presente, almoços e jantares em qualquer dia. Mas com vontade, com alegria, com desejo de estar junto, independente do calendário.
Pelo mesmo motivo não sou fã de aniversários. Se já esqueci o seu, perdão. Coisa minha.
Mas, tudo bem, se é necessário marcar um dia para reverenciar as mães, que seja. Que reverenciadas sejam.
Mas nessas ocasiões, fico pensando nas pessoas que estão fora dos padrões estabelecidos pela sociedade: as mulheres que não são mães.
As que não podem ser mães.
Como o padrão estabelecido na cultura e na sociedade é que a mulher seja mãe, a pressão é imensa sobre o assunto.
Uma mulher entre 20 e 30 anos, que se casa, tem por obrigação engravidar. O marido, os pais, os sogros, as irmãs, os amigos, enfim, todos perguntam sobre o rebento.
Imagina a desolação e desespero quando a mulher, querendo engravidar, não consegue. Muitos são os problemas físicos e, às vezes emocionais, que impedem uma gravidez.
E, por essa impossibilidade já acabaram casamentos e até reinados. A imperatriz japonesa foi tão pressionada para ter um herdeiro que entrou em profunda depressão. Teve uma filha, mas até hoje suas aparições são raras.
Quando o desejo da mulher é intenso de se tornar mãe, seu sofrimento é interno, pessoal, em uma dor que não podemos mensurar. E ainda passa a ser agravado pelas cobranças externas.
Na tentativa de obter a gravidez, diversos métodos são tentados e uma imensa frustração a cada tentativa que dá errada. É uma sequência interminável de médicos, medicamentos, tratamentos, sexo com hora marcada. Consegue imaginar o que essa rotina pode fazer com a relação?
E existe, ainda, a gravidez nessas condições, muitas vezes de alto risco, que exige o repouso absoluto da gestante e, nem sempre, a gravidez chega a termo.
Tudo isso pode terminar sem filhos, sem dinheiro, sem casamento.
O assunto da maternidade, assim, pode se tornar um trauma na vida daquela mulher para sempre.
As mulheres que não querem ser mãe.
As mulheres que não podem, até são condescendentemente perdoadas, mas as que não querem ser mãe, essas são elevadas à condição de renegadas.
A sociedade simplesmente não admite uma mulher que não queira seu lugar no paraíso na condição de mãe. A começar pelo sagrado seio familiar.
Entendo que a ausência de nascimentos implica na extinção da espécie humana. Mas, sério? Alguém acredita que pelo fato de uma mulher decidir não ser mãe, faltará gente neste planeta de mais de 7 bilhões de habitantes? Sério?
O que leva uma mulher à decisão de não ter filhos?
Em primeiro lugar, hoje, a mulher pode decidir. Até poucos anos atrás, ela não podia decidir sobre seu corpo, seus desejos, sua vida. Sempre na dependência dos pais, familiares ou do marido.
Os métodos anticoncepcionais são variados e acessíveis.
A mulher tem renda própria e independência financeira, portanto, tem outras opções além de ficar em casa e cuidar dos filhos. Embora muitas mulheres tomem essa decisão. Mas é opção delas, não imposição ou impossibilidade de se manter.
A mulher atual pode se divorciar e viver sozinha. Entendeu? Sozinha.
Tendo este poder de decisão, hoje a mulher se questiona se ela quer a maternidade ou se é apenas a necessidade de ser mãe compulsoriamente porque é isso que se espera das mulheres.
Profissionalmente, existe um contrassenso. Enquanto a profissional alcançou lugares impossíveis, quando se torna mãe não existe um tratamento ou apoio para exercer a maternidade, o que faz com que muitas mulheres não tentem conciliar o trabalho com a função de ter filhos.
Na questão profissional há, ainda, o fato da possibilidade de engravidar ser algo com termo final para a mulher, idade na qual, normalmente, está no ápice de sua vida profissional ou das possibilidades de carreira.
Os homens, ao contrário, têm poucos dias de licença paternidade e, depois, é como se nada tivesse acontecido. Competição desleal essa.
E, um grande motivo para não ser mãe, é não concordar em colocar no mundo filhos que possam sofrer com as condições sociais ou ambientais. A condição climática, o racismo, as ideologias são justificativas bastante razoáveis.
E, por fim, sINTO informar, Bem, mas há mulheres que não tem instINTO materno, não sente essa necessidade de engravidar, o relógio biológico simplesmente não as atinge.
E, ainda assim, são mulheres extraordinárias, úteis para a sociedade, são produtivas, inteligentes, cuidam de outras pessoas, mantêm casamentos bem razoáveis.
Enfim, são mulheres. Como tantas. Que são mães e realizadas na maternidade, algumas que são mães e odeiam, algumas que querem ser mães, mas não podem.
Já passamos do momento de respeitar a opinião das pessoas, ainda que não sejam iguais às nossas. Cada uma de nós é única e especial. O fato de uma mulher amar ser mãe não significa que outra mulher não pode ser realizada sem a maternidade. E está tudo bem.
Portanto, parabéns a todas as mulheres extraordinárias, cheias de superpoderes, que criam, educam, protegem, alimentam, orientam e são capazes de amar incondicionalmente.
Sendo mães ou não.
Eliane Bodart